Tem uns dias que eu acordo assim...
meio mole, meio reflexiva.
Meio sem entender muito bem o mundo nem a mim mesma.
Não, crianças, não aconteceu nada de estranho, tá tudo bem, meus pulsos ainda permanecem intactos. É só uma vontade de deixar os pensamentos sairem pra dar uma volta, sem a obrigação de retornarem diferentes.
Exemplo 1: Como eu posso ser tão perfeccionista ao ponto de não querer entregar o trabalho que me matei o fim de semana inteiro pra fazer só porque eu acho que ele não tá legal como deveria estar, se ao mesmo tempo eu deixo tudo pra última hora? Uma vez eu suspeitei que era um tipo de covardia... Eu atraso, faço nas coxas e tiro 8. É lógico que se eu tivesse feito direito, como eu deveria, eu tiraria 10, não? E se não fosse bem assim? Se mesmo eu me matando com uma semana de antecedência ainda assim eu tirasse 8? Não seria péssimo pro meu ego? (Assim como também é excelente fazer tudo nas coxas e tirar 10!)
Exemplo 2: Por que eu não consigo ficar calma e ser paciente? Por que, ó raios, eu tenho sempre que estourar e ser verborrágica em um primeiro momento? Mesmo que segundos depois eu já esteja tranquila, com minha capacidade de argumentação recuperada, todas as coisas que eu falei foram em vão, porque vieram misturadas com a raiva, com o desabafo. Seria tão bom se eu conseguisse contar até 10, elevar meus pensamentos e só então falar... Talvez me ouvissem mais.
Exemplo 3: Se me perguntassem qual o pior defeito que eu encontro no ser humano eu diria que é o egoísmo. Mas até que ponto o egoísmo não pode ser confundido com apenas uma incapacidade de pensar no outro, de colocar o outro à frente, por não ter esse hábito, por sermos acostumados demais a que tudo circule o nosso ser? Ou melhor: por não percebermos que sabemos dar, sim, até o limite em que isso envolva deixar de dar para si, frustrar nossos próprios desejos, abrir mão dos nossos impulsos? E aí é que pega a questão: hoje em dia esperar que as pessoas sejam generosas não somente quando isso não as afeta diretamente não vai diretamente de encontro com o individualismo necessário para viver nessa época conturbada? Quem hoje é capaz de passar por cima das suas espectativas só para pensar: e o outro?
Exemplo 4: Dá pra continuar a ser Pollyanna e brincar eternamente do jogo do contente? Dá pra tentar sempre ver o lado positivo das coisas? Existe realmente o dualismo de tudo?
Exemplo 5: o discurso... Ah, o discurso... O Marido sempre diz que o nosso discurso tem por função colocar as coisas dentro de uma perspectiva positiva em relação a nós mesmos. Que, com ele, mesmo sem inventar, sem torcer sentidos, nós conseguimos manipular as palavras para que nos sejam favoráveis. Porque é bem mais fácil colocar-nos no papel de vítimas do que enxergarmos onde foi que a gente deu mancada, onde foi que falhamos.
Exemplo 6: Por que é tão difícil crescer? Crescer de verdade, quebrar a casquinha do ovo e sair dele pra nunca mais voltar? A maturidade é muito complexa. Nos achamos e até nos percebemos evoluindo, mas, pôxa, isso não pára nunca? Devia ser assim: até os 10 anos, a gente aprende isso, até os 20 aprende aquilo, até os 30 mais alguma coisa e aos 35 seria finalizado o aprendizado. A gente já saberia de tudo, saberia viver em harmonia, saberia os segredos pra não machucar os outros, para não nos incomodarmos com bobagens. Por que continuamos, em escalas diferentes, óbvio, a repetir comportamentos que tínhamos aos sete anos de idade? Por que não conseguimos realmente sair do ovo? Medo de sentir frio, será? Mas mamãe galinha não vai estar sempre lá, mesmo que nós não precisemos mais de seus cuidados? Não vai continuar a nos amar, mesmo que a gente já seja mamãe galinha também?
Exemplo 7: E o medo, meus caros, pra que serve? Para paralizar, eu acho. Para nos acuar, nos deixar estáticos, para permanecermos onde estamos. Para evitar que cresçamos, enxerguemos, desafiemos o novo. Ou então para que, pensando nele, sentindo o pavor que ele nos inspira, fiquemos com a visão turva e não consigamos perceber as coisas mais bobas e simples como a felicidade. Ele também é perverso, porque domina nosso pensamento, impedindo que a gente sonhe com alguma coisa diferente, faz com que fiquemos neuróticos, pensando apenas naquele ponto onde paramos. É assim que eu vejo: se a gente tem medo e se deixa dominar por ele, fica ali, enlouquecendo no mesmo cantinho, porque não tem coragem de colocar o pé adiante. Mas se colocarmos, se ousarmos, se enfrentarmos nossos monstrinhos imaginários, vamos romper um véu e tudo vai ser melhor. Porque as coisas podem nem dar tão certo assim, podem nem ser do jeito que a gente sonhou, mas a gente vai se sentir feliz apenas por continuar a caminhar.
E agora chega de ficar viajando tanto, que outro trabalho me aguarda...
segunda-feira, 24 de janeiro de 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário