“Essa roda girando girando sem parar. Olha bem: quem roda nela? As mocinhas que querem casar, os mocinhos a fim de grana pra comprar um carro, os executivozinhos a fim de poder e dólares, os casais de saco cheio um do outro, mas segurando umas. Estar fora da roda é não segurar nenhuma, não querer nada. Feito eu: não seguro picas, não quero ninguém. Nem você. Quero não, boy. [...] Não é você que espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar. [...] Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto pra mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Para ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui, parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro O Verdadeiro Amor. Cuidado comigo: um dia encontro.”
(Dama da Noite. Caio Fernando Abreu, em Os Dragões não conhecem o Paraíso)
segunda-feira, 10 de março de 2003
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário